quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Dinossauros descobertos no Saara


CHICAGO – Dois dinossauros de 110 milhões de anos recém-escavados no deserto do Saara vêm para se juntar ao grupo de carnívoros nada comum que habitavam os continentes meridionais durante o período do Cretáceo. Batizados de Kryptops e Eocarcharia em uma dissertação a ser publicada neste mês na revista científica Acta Palaeontologica Polonica, os fósseis foram descobertos em 2000 por uma expedição chefiada pelo paleontologista Paul Sereno, da universidade de Chicago e explorador-residente da National Geographic Society.
Sereno e Stephen Brusatte, paleontologista da universidade de Bristol, co-autor da pesquisa,
dizem que os novos fósseis fornecem um vislumbre de um estágio anterior da evolução desses carnívoros bizarros do Gondwana, a massa de terra austral. “O T-rex se tornou uma figura de tanto destaque quando se fala do Cretáceo que a maior parte das pessoas nem se dá conta de que nenhum tiranossauro jamais colocou as patas em um continente do sul”, declarou Sereno. O que se via lá eram dinossauros carnívoros muito peculiares; alguns deles não se parecem em nada como o “rei tirano”, apesar de compartilhar de seu gosto por carne fresca.
O Kryptops palaios, ou “rosto velho escondido”, tem focinho curto e recebeu este nome devido à cobertura em forma de chifre que aparentemente escondia todo o seu rosto. “A melhor maneira de imaginarmos os hábitos de alimentação do Kryptops é compará-lo a uma hiena veloz de duas patas que mastigava e dilacerava carcaças”, observa Brusatte. Assim como membros de seu grupo (chamado de abelissaurídeos) surgidos posteriormente na América do Sul e na Índia, o Kryptops tinha mandíbulas curtas reforçadas com dentes pequenos que seriam mais adequados para engolir entranhas e roer carcaças do que para pegar presas vivas. Com cerca de 7,6 metros de comprimento, o Kryptops foi um carnívoro voraz;
O Eocarcharia dinops, ou “tubarão de olhos sagazes do amanhecer”, contemporâneo do Kryptops e de porte similar ao dele, recebeu este nome devido a seus dentes em forma de lâmina e por ter a sobrancelha ossuda e proeminente. Diferentemente do Kryptops, seus dentes foram feitos para prejudicar presas vivas e arrancar partes do corpo. O Eocarcharia e seus aparentados (chamados de carcharodontossaurídeos) deram origem aos maiores predadores dos continentes austrais, comparando-se ao tiranossauro em tamanho – às vezes, até ultrapassando-o. A sobrancelha do Eocarcharia parece uma enorme faixa inchada de osso, conferindo-lhe olhar ameaçador.
“Ataques com o supercílio podem não estar longe da verdade”, observa Sereno. Ele e Brusatte sugerem no estudo que a sobrancelha robusta do Eocarcharia e seus aparentados pode ter sido usada como arma de ataque contra rivais, na disputa por direitos de acasalamento.
A área dos fósseis, onde hoje é o Níger, abrigava uma ampla gama de espécies bizarras. O Kryptops, assemelhado a uma hiena, o Eocarcharia, com dentes de tubarão, e Suchomimus (“imitador de corcodilo”), comedor de peixes com uma espécie de vela nas costas, formam um trio carnívoro que caracteriza o período cretáceo na África e possivelmente em outras massas de terra do sul do planeta.
A presa principal dele era o Nigersaurus, herbívoro de pescoço comprido que se alimentava junto do solo, e viviam lado a lado com o enorme crocodilo extinto apelidado de “SuperCroc” (Sarcosuchus). Naquele tempo, o continente africano fazia parte do Gondwana e estava apenas começando a se separar da América do Sul.
Entre os financiadores da pesquisa estão a National Geographic Society, a David and Lucile Packard Foundation, a Pritzker Foundation e a Women’s Board da universidade de Chicago.***
A dissertação científica está disponível (em inglês) no site app.pan.pl. Para obter mais informações a respeito de dinossauros recém-descobertos, as espécies que foram suas contemporâneas, o hábitat no Cretáceo e a expedição que descobriu os fósseis, visite projectexploration.org.
Ouça a entrevista com o paleontologista Paul Sereno.

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